Pessoas com superneurônios que desafiam a passagem do tempo
A fonte da juventude eterna é um desejo universal. Para além deste desejo humano, a existência dos chamados "superidosos" representa um desafio e uma oportunidade para compreender a raiz da saúde cerebral e do envelhecimento saudável.
O superidosos são pessoas com mais de 80 anos que mantêm características físicas e cognitivas de um adulto 20 a 30 anos mais jovem. Um amplo estudo do Centro de Tecnologia Biomédica da Universidade de Madrid, mostra que em alguns indivíduos a atrofia da substância cinzenta cerebral relacionada à idade, especialmente nas áreas ligadas à memória, progride mais lentamente do que em “idosos normais”. Os resultados foram recentemente publicados na revista científica The Lancet Healthy Longevity.
Um órgão de maturação lenta
O desenvolvimento do cérebro humano é um processo lento, que começa na concepção, atinge a maturidade entre os 20 e 24 anos, e não termina até a morte.
Até alguns anos atrás, acreditava-se que, uma vez atingida a maturidade cerebral, não havia como substituir neurônios e reparar conexões perdidas. Hoje sabemos que o cérebro tem áreas específicas (nichos) em que células progenitoras (células-tronco) podem ajudar a reparar ou substituir neurônios que degeneram ou são danificados.
Ainda assim, o cérebro de uma pessoa idosa tem menos capacidade de regeneração, o que se traduz em uma diminuição da capacidade cognitiva. O surpreendente é que, nos superidosos, essa perda inexorável não implica em alterações graves na qualidade de vida, o que aumenta sua resiliência e reserva cognitiva.
A reserva cognitiva é a capacidade do nosso sistema nervoso central de equilibrar e otimizar seu funcionamento para enfrentar doenças neurodegenerativas. Esta capacidade também está associada a fatores como a atividade intelectual: ler, escrever e socializar.
A memória episódica
A memória episódica, responsável por armazenar as informações das experiências de vida pessoal, é um dos domínios cognitivos mais vulneráveis à deterioração relacionada com a idade. Doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer, geram um grave declínio da memória, porém, a redução do desempenho da memória é considerada parte natural do processo de envelhecimento. Os superidosos, no entanto, parecem resistir a este declínio e apresentam uma memória episódica tão boa como a de adultos saudáveis 20-30 anos mais jovens.
Os "superageres" apresentam algumas características em comum: se mantêm fisicamente ativos, apresentam melhor saúde mental do que os idosos típicos; queixam-se com menos frequência de não dormir o suficiente; mostram maior independência no dia-a-dia; e satisfação nas relações sociais;
O que explica essa capacidade dos superidosos?
O estudo mostra que os superidosos possuem um grupo de neurônios maior que o normal, em uma estrutura cerebral envolvida na preservação da memória (camada 2 do córtex cerebral entorrinal). Essas células nervosas poderiam estar relacionadas ao conceito de reserva cognitiva.
A descoberta dos superneurônios levanta a seguinte questão: se podemos favorecer seu aparecimento durante o neurodesenvolvimento ou na infância. A combinação de ambos os fatores — a prática de hábitos saudáveis e a existência de células nervosas excepcionais — abre as portas para possíveis novos tratamentos e explorar os mecanismos de promoção do superenvelhecimento.